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Lugares da Memória

Reflexões e Relatos

Depoimentos dos alunos da Unidade Municipal de Educação Usina Henry Borden, de Cubatão-SP

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Maura de Andrade e Teodoro Vieira são pesquisadores que visitaram a minha escola para nos falar mais sobre a Serra do Mar. Gostei muito da visita deles, aprendi e ri bastante.

A Baixada Santista é um lugar muito importante por causa da Serra do Mar, o caminho onde passaram europeus e escravos, que liga a cidade  de São Vicente (que foi a primeira cidade do Brasil) ao Pátio do Colégio no centro de São Paulo. Foi lá que começou a cidade (Helen - 7º ano)

Aprendi bastante no projeto, porém o que eu mais gostei (além da palestra) foi a oficina de monotipia. Adorei mexer com a tinta e ver o resultado do meu desenho (Damaris - 7º ano)

Eu não sabia muitas coisas sobre a minha região, mas no projeto Lugares da Memória no 22/06/2016 eu conheci mais sobre São Vicente, a Serra do Mar e São Paulo. A Maura de Andrade e o Teodoro Vieira falaram do Engenho dos Erasmos, uma antiga fábrica de açúcar que fica entre Santos e São Vicente. Um dos personagens que me interessou muito foi o Hans Staden, um alemão que visitou várias tribos. Além disso, aprendi sobre o Caminho do Mar, onde o Pe. José da Anchieta passou acompanhado pelos índios (Alana - 8º ano)

Como eu moro aqui em uma das partes da Mata Atlântica, já tive a oportunidade de visitar lugares como o Parque Cotia-Pará, o rio Tietê e várias cachoeiras: Lago Azul, Paraíso, Perequê e a Cachoeirinha, que tem uma história muito legal porque era toda poluída com lixo e esgoto até que um homem se cansou e limpou a cachoeira. Eu amo o lugar onde eu moro, pra mim é um paraíso lindo (Wesley - 8º ano)

Alpha - Memórias culturais em Santo André por Constança Lucas

Alpharrábio - livraria e editora, é um espaço cultural que foi fundado em 1992 em Santo André, pela poeta Dalila teles Veras e pela fotógrafa Luzia Maninha Teles Veras.

Muitas memórias culturais importantes, nas áreas de poesia, artes visuais, história, teatro e música, têm sido construídas no Alpha, como é carinhosamente chamado por seus frequentadores.

Sou frequentadora desde seu início, nele tenho tido a oportunidade de conhecer pessoas especiais ligadas ás áreas culturais mais diversas, assim como tenho participado em diferentes eventos de poesia e artes visuais.

São iniciativas assim que fazem a memória de um povo.

Visitem o Alpharrábio em Santo André na Rua Eduardo Monteiro 151

https://www.facebook.com/Alpharrabio-Livraria-347044205324872/?fref=ts

Memórias da Serra do Mar

por  Maria Regina Pinto Pereira

 

Muitas memórias da estrada do mar. Quando pequena ia muito à Bertioga e descíamos a serra velha que era muito mais bonita, colorida pelas marias sem vergonha que cresciam ao lado das pistas. Adorava especialmente a época da flora dos manacás. A estrada ficava ainda mais bonita. E cada vista de tirar o fôlego. Mais velha, trabalhei na Eletropaulo, que fez o projeto de restauração da Calçada do Lorena e foi uma delícia rever a estrada, a casa da Marquesa de Santos e a trilha dos tropeiros.

Vocês estão de parabéns por esse projeto maravilhoso.

As curvas da estrada de Santos

Wilson Vieira Novo

 O comum são as pessoas em suas lembranças, terem alguma rua guardada com carinho especial, onde passaram a infância, brincavam na calçada com os irmãos, jogavam bola com os garotos da vizinhança ou fugiam das broncas da mãe na hora de voltar para casa. Um local meio mágico, onde tudo parecia acontecer, ou, enganado pelo tempo, a gente pensa ter vivido coisas, que só existem em nossa imaginação. Eu não tive essa rua. Tive uma estrada.

 

A Via Anchieta, com suas curvas e retas, foi presença marcante em minha vida. Meus pais moravam em São Paulo e nossos avós em Santos, e quase toda semana, descíamos a Serra do Mar na sexta feira à noite ou no sábado de manhã, e só voltávamos no final do domingo, geralmente pegando congestionamentos monstruosos. Na época, final dos anos sessenta começo dos setenta, não havia a Rodovia dos Imigrantes, a Estrada Velha ainda estava aberta para o trânsito, mas de forma bastante precária, cabendo quase que exclusivamente a Via Anchieta, ainda sem suas pistas laterais na parte do planalto, a viagem entre a capital e a baixada santista.

 

Éramos seis no fusca branco do meu pai. Ele e minha mãe na frente, e minhas duas irmãs, eu e a cadeirinha com nosso irmão caçula, íamos todos no banco de trás. As malas, um pouco no porta-malas, que era na dianteira do carro, outro tanto no bagageiro, amarradas em cima do veículo. Por favor, não me pergunte como, que não saberia explicar como tudo cabia naquele fusquinha, por mais que busque em minha memória.

 

Da parte do planalto não guardo muita coisa, a não ser um restaurante onde às vezes parávamos para almoçar e servia uns mariscos em conservas que eu adorava. O trecho que eu mais gostava, era quando as duas pistas se separavam, a de ida e a de volta, e começavam os doze quilômetros de Serra do Mar. Era a hora que eu parava de infernizar minhas irmãs e colava o rosto no vidro na janela para admirar cada pedacinho da paisagem. Começava pela mata, que neste trecho é rente a estrada, e que de quando em vez, as árvores, plantas e flores, davam espaço para alguma cachoeira com suas águas viajando pelas pedras da encosta. Quase sempre a umidade da floresta, trazia consigo a forte neblina, fazendo minha mãe assustada, pedir para meu pai ir mais devagar. Depois da Curva da Onça no quilometro 43, local mais perigoso da estrada com seu ponto cego que meu pai contava que seu tio um dia perdeu a direção e quase acabou no barranco, já dava para avistar as cidades de Cubatão, Santos e São Vicente e principalmente mais ao fundo, o mar.

 

Parávamos às vezes nos locais de descanso da serra, onde descíamos do carro para beber água da bica e comer biscoito de polvilho, que minha mãe de forma salomônica, distribuía entre nós. Quase sempre havia algum carro quebrado nesse ponto, com o capo aberto e fumaça saindo por todos mos lados. Voltávamos para o carro, e meu pai prosseguia naquele cortejo de carros e caminhões, ora beirando o precipício com a exuberante vegetação da mata atlântica, ora adentrando na rocha bruta, quando faróis e buzinas dos veículos, interrompiam a escuridão e o silencio dos túneis abertos pelo homem, serpenteando assim a muralha que outrora fora desbravada por índios e bandeirantes. Nessa altura da viagem, quase no fim da descida, já estávamos “surdos” devido à diferença da pressão atmosférica entre o topo da serra e o nível do mar, e ficávamos tampando os ouvidos e tentando bocejar até que o som voltasse ao normal. De repente o trecho da serra terminava, as duas pistas se reencontravam e para mim a viagem perdia a graça.

 

Assim como na música do Roberto Carlos, que era sucesso na época e ás vezes tocava no toca fitas do nosso carro, eu também preferia as curvas da estrada de Santos. 

Memórias de Melaré e Telma que acompanharam a equipe do projeto na descida e subida com a moto no Parque do Caminhos do Mar

 

Percorrer a serra do mar foi vivenciar uma parte da história revelada a cada trecho percorrido... Natureza, sensações e emoções guardados na memória ... lembranças que agora eu também posso contar.

 

Memorias de Cristina Bottallo,

artista plástica natural de Santo André - SP

 

 

Nasci no dia 30 de setembro de 1967, na cidade de Santo André, Sp. Terceira filha de Eduardo, advogado, e de Marilena, formada em línguas Neo-Latinas mas que sempre foi mãe e dona de casa. Meus pais vieram de São Paulo, da capital. Ele nasceu lá, filho de imigrantes italianos, minha mãe, mineira, foi morar em São Paulo no começo da adolescência. Casaram-se na capital e foram começar a vida juntos, em 1963, na cidade de São Bernardo do Campo.

 

O ABC, naquela época, era uma região muito promissora, sobretudo aos profissionais liberais, que eram ainda poucos naquela região. Mais tarde, quando conheci meu marido, em Santo André, fiquei sabendo que os pais dele tinham feito um caminho parecido, com a diferença que meu sogro é médico. Era comum naquela época, vir da capital e construir uma história no ABC.

 

Quando eu estava para nascer meus pais se mudaram para um casa maior - e própria - na cidade de Santo André. Na rua Figueiras, essa casa que ainda existe, mas agora é uma farmácia, ficava na principal rua do bairro mais badalado da cidade. Em 1967, a Rua das Figueiras era de terra. Comprar o primeiro imóvel é sempre um grande sonho. E um grande passo. E para muitos filhos da capital que foram para Santo André e o ABC, lá era possível e mais acessível. Certamente a vida de meus pais e sogros teria sido mais diferente em São Paulo.

 

Das lembranças que tenho de Santo André da minha infância, as mais fortes são a cidade cheia de viadutos, difícil para quem não a conhece; o Paço Municipal, todo em cimento, projetado por Rino Levi e com paisagismo de Burle Marx, com seu Teatro Municipal, que sempre abrigou grandes estréias musicais e de teatro; e as árvores altas e em alguns pontos concentradas, que ficam no Bairro Jardim de antigamente. Hoje tomado por prédios altos, e difícil imaginar como esse bairro já foi. Mas na minha infância era uma bairro de casas baixas e muitas árvores, altas, que faziam um som de floresta quando ventava. Pelo menos era assim que eu, ainda criança, via o meu bairro.

 

Conhecida por ser uma "Cidade de Operários", Santo André abrigava muitas fábricas, e seu crescimento se deu justamente por conta dessas indústrias. Com o passar dos anos e com o fechamento de muitas delas, Santo André passou a ser o que é hoje, uma cidade que vive de comércio e serviços, uma cidade-dormitório, com tudo de bom e ruim que isso pode trazer. Do lado bom talvez eu possa citar apenas o ritmo mais lento de alguns bairros, que nos remetem às cidades do interior, e a proximidade com a capital. Mas tudo isso traz um lado ruim muito acentuado: é uma cidade sem sua luz própria, sem referências e sem muito o que oferecer. Estar tão próxima de São Paulo só faz acentuar as suas deficiências.

 

O momento mais triste e dramático que vivi em Santo André foi o assassinato do Prefeito Celso Daniel em 2002. Nós tínhamos presenciado um momento histórico em nossa política, o surgimento do PT, do Lula, dos movimentos sociais. Celso Daniel havia sido eleito pela terceira vez prefeito de nossa cidade, e ele representava a mudança que nós esperávamos, não apenas para nossa região, mas para todo país. Seu assassinato nos deixou órfãos, e a cidade, a meu ver, nunca mais se recuperou. Ainda assim ele nos deixou um legado, a recuperação da Casa do Olhar, agora chamada Casa do Olhar Luiz Sacilotto, centro cultural voltado para as artes visuais, e que homenageia esse artista plástico andreense, conhecido por suas obras concretistas.

 

Hoje não moro mais em Santo André, estou na capital, sonho antigo. Mas certamente levo comigo muito do ABC, seja no sotaque (sim, nós temos sotaque no ABC!), seja em nossa história, como os operários do estado, seja nas lembranças de uma cidade que já foi calma, arborizada e muito generosa com quem lá chegava. Cristina Bottallo, artista plástica natural de Santo André - SP

Cinthia Miranda Higa

Grupo Escoteiro do Ar São Vicente

 

 

"Meu nome é Cinthia e faço parte do movimento escoteiro aproximadamente vinte anos. Recentemente, eu e meus assistentes de tropa escoteira elaboramos uma atividade envolvendo o que os jovens de hoje gostam (selfs e whats) para mostrar um pouquinho de nossa cidade. Durante a atividade, essas jovens escoteiras com idade entre 11 e 14 anos descobriram, através de enigmas e pistas, pedaços de nossa história. Descobriram a escadaria da Igreja Matriz, por onde muitas pessoas passam, e como ela reapareceu. Ficaram tristes por não encontrar o monstro Ipupiara em sua lagoa, observaram a Praça Heróis de 32 e ouviram um pouco da história desse momento histórico. Perceberam que apesar de andar pelas ruas da cidade muitas vezes, acabam passando por detalhes sem perceber como é linda nossa história e notaram como nossa cidade está maltratada. Enfim, por conta dessa atividade, algumas dessas meninas se interessaram em conhecer um pouco mais de nossa cidade e o que mais existe para ser descoberto por elas."

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